Cinco nomes de Sodomitas que você respeita


Durante muitos séculos a igreja cristã produziu um amálgama entre homossexualidade e heresia, tratando a ambas como se fossem uma mesma coisa.
Isso decorreu da crença generalizada de que algumas heresias religiosas permitiram sexo não reprodutivo, incluindo a homossexualidade, tais como os cátaros e os templários.
Há certamente evidência sobre isso. Arnold de Verniolle por exemplo, em 1324 admitiu em julgamento que ensinava para as pessoas que a homossexualidade não era um pecado mais grave que o adultério e declarou que havia mais de três mil sodomitas em Pamiers (Occitânia). 
Beijar o traseiro e os genitais do diabo era prática atribuída às bruxas e bruxos nos Covens medievais. Nem toda bruxa era mulher, portanto. Havia bruxos sodomitas notórios.
Criminosos e párias em suas épocas, tais homens transgrediram as leis de Deus e dos mortais comuns, enfrentaram suplícios ou a ameaça constante de morte, e lutaram para viver seus amores proibidos.
Uma pequena lista do ”Orgulho Sodomita”, porque a juventude gay precisa de bons exemplos:
1-Eduardo II
Eduardo era um cavaleiro habilidoso, mas o seu desinteresse pelas armas foi notório.
Quando era ainda um adolescente conheceu Piers Gaveston, um nobre gascón cuja introdução na casa do príncipe causou grande impacto sobre ele. 
Piers acabara de servir no exército em Flandres e foi descrito nas crônicas da época como atlético, bem educado e bonito. 
Mel Gibson introduziu uma cena fictícia e homofóbica ultrajante em seu filme ”Coração valente” onde eles aparecem juntos; uma estereotipação infantil de Eduardo retratado como cruel, frívolo e incompetente controlado por um Gaveston afeminado, defenestrado.

O apego crescente entre os dois rapazes começou a ser registrado em fontes documentais a partir de 1305; Eduardo envolveu-se em uma briga com seu pai, que lhe baniu da sua presença e cortou a mesada. 
Reduziu os empregados e enviou Gaveston para longe. 
Eduardo escreveu então para sua irmã pedindo-lhe para persuadir a rainha Margarete a interceder junto ao Rei. 
O príncipe queria Gaveston de volta à sua casa.
Quando Eduardo foi nomeado calaveiro Gaveston foi finalmente ”restaurado”, para ser exilado logo depois por ter desertado junto com outros cavaleiros para assistir torneios na França. 
Posteriormente todos eles foram perdoados pelo velho rei, menos Gaveston. 
O decreto de exílio não especificava a causa e tinha caráter temporário. Provavelmente o rei queria quebrar o vínculo de natureza amorosa que unia seu filho e o gascón.
Eduardo I morreu em julho de 1307 o príncipe herdeiro subiu ao trono. Imediatamente mandou buscar Gaveston para junto de si.
Os cronistas do período não expressaram surpresa. 
O envolvimento entre Eduardo II e Piers Gaveston era conhecido como ”além da medida e da razão”, ”imoderado”, ”desordenado”, ”excessivo”. 
Um biógrafo contemporãneo escreveu que ”não me lembro de ter ouvido que um homem amou tanto um outro”. 
Um autor revela que Eduardo ”entrou em uniões ilícitas e pecaminosas, rejeitando o doce abraço de sua esposa”.
Embora Eduardo tenha se casado com Isabela da França, filha de Felipe IV, o desprezo pela esposa não passou despercebido. 
Isabela se queixou em uma carta em latim de que seu leito conjugal foi roubado por homens como Hugo, o Despenseiro (um outro amante de Eduardo, depois da morte de Gaveston). 
Logo após o casamento, ao voltar para a Inglaterra, Eduardo correu para os braços de Gaveston, e cobriu ele de beijos. 
No mês da coroação do Rei e da Rainha, Piers apareceu vestido de jóias e púrpura, assemelhando-se mais ao deus Marte do que a um mero mortal.
 Assim que o viu Eduardo deixou Isabela sozinha no sofá, algo que ofendeu os parentes da rainha, que se retiraram da festa. Gaveston foi nomeado Conde da Cornualha, o que provocou controvérsia.
 O gascón vinha de origem humilde.
Não se pode dizer que Eduardo não cumpriu suas obrigações como rei e marido; Isabela teve um herdeiro com ele, embora tardiamente. 
Entretanto, o amor do rei pertencia a Gaveston e ela estava ciente disso. Felipe da França e sua irmã Margarete deram início a uma campanha para eliminar Piers Gaveston da face da terra, patrocinando os barões e outros nobres contra ele. 
Em 1312 Eduardo foi obrigado a fugir com Gaveston, após pressões políticas, exílios, ameaças de guerra e excomunhões (todas inúteis) com os barões liderados pelo conde de Lancaster no encalço deles. 
Em desespero para salvar o favorito, Eduardo abandonou sua bagagem em Newcastle, incluindo as jóias mais preciosas, cavalos e muito dinheiro. 
E abandonou também a rainha, grávida de cinco meses. Gaveston foi preso, trespassado por uma espada e decapitado. A primeira reação do rei foi raiva e jurou vingança.

2-Leonardo da Vinci

”Uma única pessoa maravilhosamente dotada pelos ceús com beleza, graça e talento em tanta abundância que deixa os outros homens muito para trás”.

É assim que apresenta a figura de Leonardo um biógrafo quase contemporãneo seu chamado Vasari. 


De acordo com esse autor Leonardo era muito belo, despertando a atenção de todos ao redor; era tão forte fisicamente que conseguia entortar ferraduras. 

Era generoso e tremendamente inteligente, e um conversador brilhante.

Em 08 de abril de 1476 um modelo e prostituto tornou-se vítima de uma denúncia anônima de sodomia que mencionava Leonardo. A denúncia foi retirada, entretanto, por falta de provas.


Leonardo manteve duas relações de longa duração com rapazes; seus dois alunos Gian Giacomo Caprotti da Oreno (”Salai”, o diabinho), e Francesco Melzi, aristocrata herdeiro dos trabalhos científicos e artísticos de Da vinci.


Salai era bonito e gracioso, com um lindo cabelo ondulado. 


Há vários desenhos eróticos dele compostos por Leonardo; dentre as qualidades de Salai enumeradas pelo mestre consta que era glutão,teimoso, mentiroso e ladrão. 

Apesar disso Salai se manteve como assistente, serviçal e companheiro de Leonardo por três décadas e herdou a Mona Lisa,que já era bastante valorizada


3-Paul Jacob Koller


O feiticeiro Jackl (1677)

Jacob Koller, filho de uma mendiga chamada Bárbara Kollerin e um assistente de carrasco (falecido), tinha 20 anos, cabelos ruivos e segundo testemunhas, era o líder sodomita de uma gangue juvenil em Salisburgo, Áustria; acusado de seduzir jovens para educar nas artes mágicas.

Sua mãe vinha de uma classe social pária de ”recicladores” de carcaças de animais (usadas na fabricação de graxa, farinha de osso, sabão,etc,) e provavelmente lhe ensinou os ofícios da arte de pedir esmolas. 

Jackl (como ficou conhecido posteriormente) foi apenas um dentre centenas de jovens desocupados vivendo em uma época difícil, de crise econômica por conta de três décadas de guerras.

As ruas de Salisburgo lotaram de mendigos e crianças sem teto; uma multidão de indesejáveis sociais que provocou uma mudança significativa na mentalidade religiosa do período, fundamental para explicar os eventos relacionados à figura de Jackl; o ato de pedir esmolas, tolerado anteriormente pelos cristãos como uma oportunidade para um cidadão de bem exercer a caridade e receber em troca alguns ”créditos” em prol da salvação, caiu em desgraça. 

Esmolar foi considerado algo suspeito, desonesto e um modo rápido de conseguir dinheiro sem trabalhar.
O grande número de pessoas sem teto e sem emprego fez surgir táticas de abordagem mais impetuosas, de mendicância grupal, para aumentar as chances de sobrevivência. Nesse contexto a acusação de feitiçaria proporcionou uma forma eficaz de lidar com esse problema. 

Serviu também para justificar as desgraças naturais, econômicas, mortes súbitas e todo tipo de coisa que você imaginar.

 A crença de que mendigos amaldiçoavam aqueles que negavam esmolas se espalhou e se tornou ”prova” de que havia uma misteriosa ”conduta mágica” envolvida no meio de tais pessoas.

Foi assim que Bárbara Kollerin foi presa, acusada falsamente de bruxaria e queimada. 

Durante a tortura e obrigada a acusar o próprio filho, ela disse que o rapaz tinha feito um pacto com o demônio.

Jacob foi procurado pelo governo amplamente mas nunca foi encontrado. 

Em 1677 um menino deficiente de 12 anos chamado Dionísio Feldner (apelidado de ”rato sujo”) revelou que fazia parte de um círculo de garotos cujo líder era justamente Jacob Koller, que era agora chamado por eles de ”O feiticeiro Jackl ”. A partir disso a fama de Jacob ultrapassou as fronteiras. 

As autoridades de Salisburgo afirmaram que ele tinha o poder de se tornar invisível, de se transformar em raposas, de invocar tempestades e de criar magicamente um exército de ratos para destruir plantações. 

A busca desenfreada por Jacob levantou uma histeria coletiva e uma caça às bruxas inédita foi deflagrada no arcebispado de Salisburgo cujo foco eram jovens do sexo masculino. 

No total 139 pessoas foram executadas; 113 homens, 39 tinham entre 10 e 14 anos. 

Eles foram torturados e queimados; alguns vivos outros depois de enforcados. Inutilmente o arcebispado ofereceu uma recompensa por Jacob, vivo ou morto. Nunca foi pego.

http://www.salzburg.com/wiki/index.php/Jakob_Koller


4-Frei Francisco da Ilha da Madeira


Francisco era um jovem corista (recitava o ”ofício divino” no coro) em 1690 no convento de Nossa Senhora de Belém, da ordem de São Jerônimo,em Portugal, e estava apaixonado por Frei Matthias de Mattos de 40 anos, sacerdote e pregador, com quem mantinha um relacionamento amoroso secreto. 

Francisco vivia longe da sua mãe há seis anos, mas revelava nas cartas trocadas com o amado que mesmo assim preferiria a companhia de Matthias por um instante apenas do que séculos com ela, tamanha era sua devoção e amor pelo companheiro. 

O impetuoso Frei Francisco foi ainda mais longe; não teve medo de afirmar que amava outro homem mais do que ao próprio Deus:

“Meu coraçãozinho, minha vida, minha alma e meu tudo.

Mais amor tenho hoje a ti do que a um Deus que me deitou neste mundo, e mais do que a uma mãe que me criou, (pois) vivendo eu fora dela, há seis anos, mais aceitaria estar contigo um instante, do que com ela muitos séculos”


Segundo o antropólogo Luiz Mott as cartas de Frei Francisco evidenciam um pulsar preconce de ”orgulho gay”, aparecendo já naquela altura um discurso laudatório do homoerotismo:



” Meu feitiçozinho, meu cãozinho:



Esta tarde te vi passar com o irmão de Frei Bento. Bem te vi chegar para a porta da horta onde estávamos, e por uma greta te vi e teu lindo rostinho, e a tua boquinha que lhe desejei dar um beijinho de língua. E de tal sorte me vi estonteado que estive para ir após de ti pela porta a fora. 


De tal sorte me vi embebido, que cheguei a dar passos para o fazer, quando me lembrei que estavam ali os coristas.

Oh! que mágoa que sentiu meu coraçãozinho! Já não posso explicar, por que causas grandes melhor se explicam (em) bem senti-las, suposto que oculto com o silêncio o que é digno de tanto aplauso


O motivo das cartas de amor escritas pelo corista terem sobrevivido à posteridade se deve à traição de Frei Matthias. 


A Inquisição oferecia penalidades mais leves para sodomitas que se delatavam. 

E foi assim que no dia 13 de setembro de 1690 ele procurou o Santo Ofício para entregar as cartas que Francisco havia lhe escrito.

https://luizmottblog.wordpress.com/artigos/meu-menino-lindo-cartas-de-amor-de-um-frade-sodomita-lisboa-1690/



5-Reverendo John Church


No verão de 1810 o reverendo John Church, de origem orfã e abandonado nos degraus de uma igreja, celebrou cerimônias de casamento entre homens dentro de um bordel masculino conhecido como ”Cisne branco”. 
Em várias ocasiões ele casou três ou quatro casais em cerimônias coletivas, em uma sala do bordel chamada de ”Capela”. 
Após o rito os noivos consumavam as núpcias ali mesmo, diante de todos.
O historiador Rictor Norton diz que é imprudente considerar que a participação do reverendo nos casamentos no bordel seja humorística ou maliciosa em virtude da forte opnião positiva dele sobre a homossexualidade; Norton afirma que este caso é a primeira agitação de um orgulho gay no seio da cristandade. 
O reverendo teve alguns namorados mas foram em geral amores conflituosos. Um seu contemporâneo o descreveu instintivo, afetuoso e franco:
”O Sr. Church gentilmente pôs os braços em volta do meu pescoço e me beijou duas vezes, e me pediu educadamente para dormir com ele”
O reverendo foi perseguido implacavelmente por jornais sensacionalistas que o denunciaram por sodomia até que enfim foi acusado formalmente, condenado e preso por dois anos. 
Seu destino final é ignorado.
http://rictornorton.co.uk/church.htm

Walter Silva ||| Symposium ©





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