Beto, o sacerdote da diversidade
Padre paulista realiza, neste domingo, seu primeiro casamento entre pessoas do mesmo sexo em Pernambuco
Marcionila Teixeira
marcionilateixeira.pe@diariodepernambuco.com.br
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Publicação: 28/01/2017 03:00
O padre Beto, 51 anos, nascido Roberto Francisco Daniel, parece até ter pago caro por discordar de antigos preceitos da Igreja Católica. No final, não foi bem assim.
Ao defender o casamento homoafetivo, o uso da camisinha, o aborto em alguns casos e a separação conjugal, o sacerdote terminou excomungado em 2013.
Deu a volta por cima, montou a própria igreja - chamada Humanidade Livre - e, desde então, viaja pelo Brasil realizando casamentos entre pessoas homossexuais e defendendo seus preceitos.
Já promoveu dez celebrações do tipo.
Pela primeira vez, estará em Pernambuco para casar um casal homoafetivo.
A cerimônia acontece neste domingo, quando o decorador Eliel Alves, 42 anos, se unirá ao dançarino Berg Goodman, 33.
O padre Beto é objetivo. Principalmente quanto ao conceito de família.
E é exatamente isso que tem conquistado a simpatia desses casais.
“Hoje não podemos mais definir a família como simplesmente um grupo formado por homem, mulher e criança. É preciso uma definição ampla.
Família é um grupo de pessoas que se amam e que desejam, juntas, construir um projeto de vida, um projeto novo, e que se interessam mutuamente umas pelas outras.
Isso é familia e aí está incluída a união homoafetiva, que é união por amor, portanto, abençoada por Deus e que deve ser reconhecida como tal”, afirma.
No caso de Eliel e Berg, juntos há seis anos, além do casamento com a bênção especial do padre Beto, eles também foram presenteados com uma filha, de um ano e três meses, após se inscreverem no Cadastro Nacional de Adoção.
A criança chegou de São Paulo há oito m É ela, inclusive, quem vai carregar as alianças dos noivos. Apesar de excomungado pela Diocese de Bauru, em São Paulo, padre Beto continua sacerdote, mas não em nome da Igreja Católica e sim de sua nova igreja, criada há dois anos.
Beto também defende um ponto de vista diferente quanto à sexualidade. “A pessoa não faz sexo só para reproduzir. Pelo contrário, faz sexo para o prazer e isso é saúde. Um casal que tenha dois, três filhos não faz sexo apenas três vezes”, diz.
No quesito casamento, ele também critica a relação indissolúvel. “Isso é um absurdo em pleno século 21. Vamos imaginar que uma pessoa não dá certo em um relacionamento e ela, com 30 e poucos anos, tem que ficar solteira para o resto da vida. Juntando isso à regra de que sexo somente deve acontecer no casamento, essa pessoa ter que passar o resto da vida solteira e casta é um absurdo. Ou seja, a moral sexual da igreja muito mais faz mal ao ser humano que bem”, dispara.
As opiniões polêmicas não param por aí. Para o sacerdote, o aborto pode ser realizado até o terceiro mês, quando se dá a formação do córtex cerebral. “Isso porque a partir daí a pessoa interage com o meio, sente dor e sofrimento”, diz. O religioso também defende o aborto em casos de estupro, feto anencéfalo e risco de vida para a mulher. E camisinha, lembra, é necessária, principalmente em épocas de carnaval.
“Proibir seu uso é um crime. Ela deveria ser incentivada”, completou. Diante desses posicionamentos, o sexo antes do casamento segue a mesma linha. “A sexualidade humana é positiva. Não tenho nada contra duas pessoas adultas terem relação íntima. O que é preciso no país é uma boa educação sexual para evitar gravidez precoce”. O padre foi excomungado por negar-se a pedir perdão pelos seus pensamentos. E segue provocando, celebrando e casando quem se ama. Assim seja.
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