Casal gay é espancado com pá após abraço e alega homofobia: 'bichinhas'

Jovens de Araraquara registraram boletim de ocorrência na terça-feira (14).
Douglas Braga foi socorrido e levado à UPA, onde tomou pontos na cabeça.



Caliandra SegniniDo G1 São Carlos e Araraquara
Um casal gay de Araraquara (SP) alega ter sido agredido com chutes, socos e golpes com uma pá por dois homens, na madrugada de domingo (12), após terem se abraçado em uma praça no bairro Melhado. Douglas Braga, de 22 anos, e Pablo Marton, de 23 anos, ficaram com vários hematomas no corpo e registraram boletim de ocorrência no 4º Distrito Policial na terça-feira (14). Eles acreditam que a violência foi motivada por homofobia.

Quando nos abraçamos eles disseram: ‘são duas bichinhas’. Um deles deu um chute na minha costela, o outro veio por trás e chutou a cabeça do Douglas. Depois bateu na cabeça dele com uma pá"

Pablo Marton, 23 anos

Os jovens estavam em uma festa, próximo à casa de Marton, no mesmo bairro onde ocorreu a agressão. 

Quando foram embora, por volta das 3h, se abraçaram e foram abordados pelos agressores.

“Quando nos abraçamos eles disseram: ‘são duas bichinhas’.

Um deles deu um chute na minha costela, o outro veio por trás e chutou a cabeça do Douglas. 

Depois bateu na cabeça dele com uma pá”, contou Marton.


O casal retornou ao local da festa em busca de ajuda. 

“Quando chegamos lá o Douglas desmaiou. 

Deu um tumulto na frente da festa e nossos amigos foram falar com os caras que nos agrediram. 

Eles disseram que estavam separando uma briga nossa, mas é mentira, eles viram a gente se abraçar e começaram a bater”.


4º DP de Araraquara (Foto: Google Maps/ Reprodução)4º DP de Araraquara vai investigar o caso deagressão (Foto: Google Maps/ Reprodução)


O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e Braga foi levado para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Central, onde tomou pontos na cabeça e ficou em observação até às 12h.


Segundo Marton, no mesmo dia um dos agressores foi até a casa dele para fazer ameaças.

 “Eu moro no bairro desde sempre. Conheço os agressores de vista, mas nunca tinha tido problema com eles. 

Um foi na minha casa e disse para a minha mãe me dizer que era para eu botar um ponto final nessa história”.


O jovem contou ainda que a cunhada dele também ouviu ameaças dirigidas ao irmão. 

“Falaram para ela que iam ralar a cara do Douglas no chão”, disse.

O maior preconceito que a gente sofre é nos órgãos públicos, que muitas vezes não dão atenção para o caso. 

"Eu só quero segurança"

Pablo Marton, 23 anos
Insegurança


O casal, que está junto há 1 ano e 9 meses, teme novas agressões. 

“Nunca imaginei que ia passar por isso, nem verbalmente a gente tinha sido agredido. 

Quero muito que a gente possa andar na rua com segurança. Só isso. 

Eu tenho que dar uma volta enorme para chegar na minha casa para não ter que passar perto da casa dele”, afirmou Marton.


Após o registro da violência, o jovem espera que alguma medida protetiva seja tomada. 

“A assessoria está nos apoiando, mas estamos com medo de sair de casa. 

A gente está expondo o caso para ver se não acontece de novo com ninguém mais. 

O maior preconceito que a gente sofre é nos órgãos públicos, que muitas vezes não dão atenção para o caso. 

Eu só quero segurança”, declarou.


Filipe Brunelli, assessora de políticas LGBT da Prefeitura de Araraquara (Foto: Filipe Brunelli)Filipe Brunelli, assessora de políticas LGBT daPrefeitura de Araraquara 

(Foto: Filipe Brunelli)


Denúncias e orientação


Filipe Brunelli, assessora de políticas LGBT de Araraquara, acompanhou o casal até a delegacia para registrar o boletim de ocorrência, com base na Lei estadual 10.948/2001, que prevê penalidades à prática de discriminação em razão de orientação sexual ou de gênero.


“Vamos encaminhar para a defensoria pública que vai designar um advogado para acompanhar o caso junto à Polícia Civil. Depois que finalizar a investigação, segue para o Ministério Público. 

As pessoas tem a impressão que a nossa jurisprudência não dá em nada, mas tem que ir até o fim, tem que mostrar que existe sim uma Constituição que deve ser respeitada”, explicou.


A assessora ressaltou ainda a importância das denúncias.

 “Damos o encaminhamento necessário para não colocar a vítima em mais risco. 

Desde o ano passado, foi aprovado para incluir no boletim uma especificação quando é crime de ódio contra a população LGBT. 

Denunciem sim, as pessoas que cometem esses crimes precisam ser responsabilizadas”, declarou.


A assessoria LGBT também conta com o Disque-Denúncia pelo telefone (16) 99751-3567. 

O atendimento é 24 horas e a identidade do denunciante é mantida sob sigilo. Também há um formulário online para denúncias.


G1 tentou contato com o 4º Distrito Policial de Araraquara, onde foi registrada a ocorrência, mas até esta publicação ninguém foi encontrado para comentar o caso.


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