Da apropriação da cultura à reescrita da História Gay


Publicado em 26 de novembro de 2015 por WALTER SILVA
Durante os últimos dias tenho lido na internet, em resposta ao ativismo de homens gays, manifestações furiosas de pessoas LgBTTTQIA  que me deixaram com os cabelos em pé.
O discurso autoritário,micro fascista e megalomaníaco é expelido aos borbotões como vômito; não existe a possibilidade de abertura para o diálogo. Os enunciados carregam pressupostos implícitos e inquestionáveis.
Reescrevendo a História
Uma dessas pessoas LgBTTTQIA me enviou um comentário, furibunda:
”Homens Cis não conseguem nem limpar a própria bunda sozinhos,que dirá fundar um movimento”.Em tempo,” Cis” é como o povo da dízima periódica chama atualmente a maioria dos homens gays da terra (uma das exigências do movimento transgênero.O neologismo latino foi inventado em meados dos anos noventa na internet não se sabe por quem).
A reação histérica à informação comprovada de que homens gays fundaram o movimento, sequestrado posteriormente pelo povo da dízima periódica, demonstra o grau de alienação promovida pela agenda política de determinados setores  LgBTTTQIA.
Baseados na propaganda americana  dos motins de Stonewall em 69 (” a rebelião transgênero” ) militantes LgBTTTQIA reiteram em toda parte que o ”movimento” lhes pertence, pois nasceu da valentia ímpar de lésbicas,travestis e transexuais negras e latinas (segundo esse conto, os gays estavam nos fundos, se tremendo de medo da polícia; depois nos anos seguintes, os medrosos e malvados gays tomaram de assalto o movimento que surgiu dos motins, expulsando as lésbicas,travestis e transexuais negras e latinas para o banco de trás).
Essa é, entretanto, uma narrativa concebida para atender o sentimento politicamente correto vigente na atualidade e preencher as expectativas da esquerda panfletária e feminista, uma reescrita da história do movimento Gay sem qualquer legitimidade.
A verdade
O primeiro ativista LGBT era um alemão gay romântico chamado karl Heinrich Ulrichs e ele lutou sozinho e bravamente por direitos civis no século 19; um feito inigualável sob qualquer ponto de vista. O conceito de ”gay  rights” foi  obra dele.O moderno movimento gay nasceu dele.
Ponto final.
Apropriação cultural
Outra coisa inacreditavelmente obtusa  que li escrita por pessoas LgBTTTQIA em redes sociais foi  que ”não existe cultura gay” para que se possa mencionar uma apropriação cultural.
Sério? Que tal começar com ”O Banquete” de Platão?
Uma obra prima influente da tradição de literatura e filosofia  ocidental  escrita do ponto de vista de homens que amam outros homens e tratando do amor entre homens, descrevendo esse amor, propondo uma gênese para explicar a origem desse amor e enfatizando a importância desse tipo de amor na sociedade e que serviu de inspiração para centenas de homens gays é parte da  CULTURA GAY sim migues.Da mesma forma o profeta e poeta  gay Walt Whitman, autor de Calamus, reproduz e sintetiza todo um simbolismo arquetípico relacionado exclusivamente ao relacionamento entre homens. Eu poderia citar uma longa,longa lista de homens gays que produziram CULTURA GAY (Gente do quilate de André Gide,Garcia Lorca e James Baldwin),mas seria demasiado trabalhoso e inútil.
Esperar o que de criaturas que não leem nada além de notas de rodapé de Marx, Foucault, Judith Butler e Valerie Solanas?
O movimento LgBTTTQIA se apropria indevidamente da cultura da comunidade gay todas as vezes que promove a sua micro faxina epistemológica expulsando a palavra ”gay” e substituindo-a pelo acrônimo ”LGBT” ou ”LGBTTTQIA”, diluindo as questões relacionadas a homens gays nas questões genéricas ”LGBT”. Uma pequena lista de expressões banidas pelos códigos de correção política do movimento :
-Casamento gay.
-Parada Gay
– Gayfobia.
-Movimento Gay.
-Orgulho Gay.
-Direitos gays.
-Beijo gay ainda pode?
Não é incomum que inclusive homens gays nomeiem a si mesmos simplesmente como ”LGBT”.
Que coisa não?
Além disso o movimento LgBTTTQIA se apropria da cultura gay ao impor sua própria taxonomia baseada no pós estruturalismo e na retórica da construção social, redefinindo e esvaziando a ideia de homossexualidade, arbitrariamente reduzida  à atos sexuais  desprovidos de identidade e condicionados a uma fluidez não binária, na contramão da evidência empírica da subjetividade de muitas gerações de gays e dando as costas para a  ferramenta científica (biológica,genética,histórica,antropológica).
Apagamento de Lésbicas,Bissexuais,Travestis e Transexuais
A evidente (e deplorada)  visibilidade de homens gays e suas pautas no movimento LgBTTTQIA (dízima periódica) deve ser contextualizada dentro da perspectiva da trajetória do movimento para evitar o anacronismo de se cobrar dívidas históricas; a saber, no passado todas essas pessoas que hoje reivindicam uma identidade dissidente reivindicavam antes uma identidade Gay.Simples assim.
A visibilidade Gay não é resultado de opressão contra outras minorias como aponta a tendenciosa narrativa maoísta ”LBTTTQIA” atual (na realidade, essa narrativa é uma imitação implícita do conceito de ”luta de classes” do marxismo,onde o ”gay cis” é o burguês e os LBTTTQIA o proletário).
Essa visibilidade é efeito daquele contexto primitivo, da reunião de todos os desviantes sexuais e de gênero sob a alcunha de ”gay”.
Ressaltando que ”gay” sempre esteve relacionado ao homossexual masculino desde os primórdios do século doze (em que pese o fato do termo também ter sido usado em outros contextos, notadamente FORA da subcultura homossexual).
O alargamento de ”gay”, que o tornaria um ”guarda chuva” nos anos 60, decorre da inclusão de outros desviantes sexuais no movimento nesta altura, mas já ouvi de ativistas LgBTTTQIA  a acusação de que os homens  ”se apropriaram” do termo ”gay” que segundo eles,era desde sempre um guarda chuva genérico.
Menas.
O historiador Rictor Norton revela que  na explosão do termo ”gay” foi crucial a formação da ”Frente de Liberação Gay” em julho de 69 e a adoção dos slogans ”Gay Power”,”Gay is Good” e ”Gay Pride” e informa que ”gay” foi ”estendido” para incluir lésbicas,bissexuais e travestis naquele momento histórico  (The History of the Word ‘Gay’ and other Queerwords,  Essays by Rictor Norton).

Walter Silva ||| Symposium

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