Militante LGBT Felipe Scalisa denuncia a opressão aos homossexuais e a perseguição contra quem questiona essa realidade

Na quarta parte da série da Ponte sobre violências sistemáticas na Faculdade de Medicina da USP, o aluno e militante LGBT Felipe Scalisa denuncia a opressão aos homossexuais e a perseguição contra quem questiona essa realidade

Por Igor Ojeda e Tatiana Merlino
Com Caio Palazzo (vídeos) e Rafael Bonifácio (edição de vídeos)
Felipe Scalisa é hoje o militante LGBT de maior visibilidade na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Integrante do Núcleo de Estudos em Gênero, Saúde e Sexualidade (Negss), coletivo formado no início de 2013, ele vem se destacando por liderar a luta contra a violência homofóbica no interior de uma das faculdades mais respeitadas do país.
Por isso mesmo, sofre dura perseguição. É ridicularizado nos espaços de discussão, em pichações nos banheiros, nas redes sociais. O incômodo que gera é tanto que chegou a ser lembrado jocosamente durante a edição deste ano do Show Medicina, grupo que realiza apresentações artísticas anuais e que é alvo de denúncias por práticas de assédio moral e trotes violentos.
As violações ocorridas na FMUSP serão tratadas hoje (25/11) em uma segunda audiência organizada pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa (Alesp), presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT). O diretor da instituição, José Otávio Auler, foi convidado a participar, mas informou que não estará presente. Em carta ao deputado Adriano Diogo, informou que irá esperar a reunião da Congregação da faculdade, que ocorrerá amanhã (26), para se manifestar. Na ocasião, serão definidas medidas para coibir os abusos dentro da FMUSP. O relatório final da comissão interna criada para apurar as violações ocorridas na instituição aponta que a violência sexual “ocorre de forma repetida” na faculdade.
Nesta terça-feira, Diogo também reuniu as 32 assinaturas necessárias para a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar as denúncias de violações de direitos humanos ocorridas em universidades- públicas e privadas- do Estado de São Paulo, em trotes, festas e no cotidiano acadêmico. As assinaturas eram necesárias para que a Comissão fosse levada para votação em plenário.
Ambiente permissivo
Em entrevista à Ponte, Scalisa conta como o Negss e o coletivo feminista Geni passaram a ser perseguidos ao denunciar casos de violações na FMUSP e a afirmar que há um ambiente permissivo para o abuso sexual na instituição, especialmente nas festas organizadas pela Atlética.
Em relação à homofobia, ele diz que a violência é naturalizada. “A maior parte da homofobia vem da naturalização e de rituais da faculdade que são muito antigos e que vêm de épocas mais declaradamente homofóbicas.” No entanto, o militante cita casos mais explícitos, como o de um aluno ameaçado de agressão na Atlética por estar beijando outro homem em uma festa e o de homossexuais que fazem residência ou internato coagidos a se “tornarem” heterossexuais para poderem fazer algum procedimento.
Um episódio recente foi o ocorrido na festa “Carecas do Bosque” deste ano, quando um aluno homossexual da Faculdade de Direito da USP (São Francisco) foi agredido com um soco na cara por um segurança por ter entrado numa área permitida apenas para casais heterossexuais (assista aqui ao depoimento do estudante à Ponte).
Alguns dias depois, com o apoio do Negss, militantes LGBT da São Francisco organizaram um ato de repúdio contra a Atlética da FMUSP. Segundo Scalisa, ele foi considerado um dos líderes da manifestação. “A resposta foi perseguirem as pessoas que protestaram em relação à existência de homofobia no espaço da Atlética. Picharam meu nome no banheiro, inventaram histórias sobre mim”, conta o estudante

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